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Os sapatos, além de protegerem os pés, contam histórias. Cada material, cada formato e cada gesto de calçar revelam muito mais do que estilo: fala sobre cultura, sociedade e sobre como escolhemos nos apresentar ao mundo.

Na série sneakerverse, vamos revisitar os caminhos que levaram o calçado da sobrevivência à cultura. Afinal, olhar para o que está nos pés é também olhar para a forma como caminhamos pela história. 👟

A engrenagem e como o mercado opera na prática

Em 1996, uma gigante de materiais esportivos assinou um contrato histórico com a seleção brasileira.

Foram US$ 170 milhões por 10 anos, com direito exclusivo sobre uniformes, merchandising e até amistosos — um modelo simbólico e financeiro que redefiniu a influência comercial sobre o esporte nacional.

Essa relação logo virou alvo de investigação. Denúncias levantaram que parte do dinheiro foi desviado como propina ao ex-presidente da CBF, repassada via intermediários — o que o patrocinador negou, afirmando cooperar com as investigações.

O Parlamento abriu duas CPIs para analisar o caso, mas ambas foram arquivadas sem conclusões definitivas — apesar de terem acesso a depoimentos de dirigentes e documentos da época.

Mesmo sob suspeita, a parceria persistiu e se fortaleceu. Em 2024, o contrato foi renovado até 2038, com US$ 100 milhões anuais fixos, royalties e variáveis que podem elevar os ganhos da CBF a R$ 1 bilhão por ano.

(Imagem: ESPN)

Esses patrocínios possibilitam investimentos essenciais em categorias de base, futebol feminino, futsal, praia e em visibilidade global.

No entanto, para que não se tornem armadilhas, é essencial que os termos sejam transparentes e que decisões técnicas jamais sejam usurpadas por interesses comerciais.

O preço do suor nas linhas de produção

Investigações recentes de fábricas no Sudeste Asiático relatam trabalhadores desmaiando ou passando mal durante períodos de calor intenso.

Para se ter uma ideia, em uma fábrica no Camboja, que produz para grandes marcas, uma antiga funcionária da enfermaria relatou que 15 pessoas por mês acabavam incapacitados por calor durante os meses mais quentes — números que chegavam até a dois ou três por dia em situações extremas.

Mas isso não é tudo. Estudos também mostram que empregados sofrem com temperaturas internas superiores a 38 °C — níveis associados à exaustão, queda de produtividade e riscos graves à saúde. Essas condições se agravam quando combinadas com ventilação inadequada, pressão por metas e excesso de horas extras.

(Imagem: Boston Review)

Além disso, instituições globais alertam que o estresse térmico já é uma emergência de saúde ocupacional:

  • Mais de 2,4 bilhões de trabalhadores estão expostos a calor extremo;

  • Em 2023, houve mais de 22 milhões de casos de lesões ocupacionais relacionados ao calor, além de quase 19 mil mortes.

Códigos de conduta — com regras de idade mínima, saúde, segurança e proibição do trabalho infantil — já fazem parte do setor. Algumas marcas até publicam mapas de fornecedores.

Maaaaas… Sem fiscalização séria e acompanhamento constante nas fábricas, essas normas correm o risco de ficar apenas no papel.

Por que isso importa?

A cadeia da moda é interconectada: os desafios enfrentados por trabalhadores nas roupas também existem — e muitas vezes são ainda mais graves — nas fábricas de calçados.

Cuidar do bem-estar de toda a cadeia, inclusive dos elos mais invisíveis, é o que mantém credibilidade e reforça valores de responsabilidade e ética.

Feito de garrafa PET resolve?

Nos últimos anos, o selo feito de garrafa PET conquistou o status de passe livre para a sustentabilidade.

Mas aqui está o ponto: quando aparece sozinho, esse claim pode ser greenwashing: aquelas promessas ambientais vagas ou exageradas, que parecem bonitas no marketing, mas não mostram o impacto real da cadeia.

E não é exceção: uma pesquisa mostrou que 42% das alegações ambientais corporativas são falsas ou enganosas. Resultado? Consumidores desconfiados e uma causa ambiental que perde credibilidade.

Por isso, em 2023, a União Europeia apertou o cerco com a Diretiva de Green Claims: agora, qualquer afirmação “verde” precisa vir acompanhada de prova científica, sob pena de multa pesada.

A mensagem é clara: não basta estampar o rótulo, é preciso entregá-lo de verdade. Hoje, o que brilha aos olhos não é só reciclar, mas criar peças pensadas para durar, com rotas claras de pós-uso, programas de reparo, recompra e rastreabilidade.

É nesse pacote completo que as marcas se diferenciam — enquanto algumas permanecem no discurso, outras constroem confiança ao mostrar ação.

No próximo episódio 🍿

A corrida bilionária pelo seu pé — e o único caminho viável para vencer. Por que conforto, transparência e impacto real estão definindo o novo luxo — e como isso muda o design, o preço e hábitos de uso.

Antes de você ir embora

Queremos saber: você dá preferência para marcas com pegada sustentável?

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