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Os sapatos, além de protegerem os pés, contam histórias. Cada material, cada formato e cada gesto de calçar revelam muito mais do que estilo: fala sobre cultura, sociedade e sobre como escolhemos nos apresentar ao mundo.

Na sĂ©rie sneakerverse, vamos revisitar os caminhos que levaram o calçado da sobrevivĂȘncia Ă  cultura. Afinal, olhar para o que estĂĄ nos pĂ©s Ă© tambĂ©m olhar para a forma como caminhamos pela histĂłria. 👟

Teste rĂĄpido, para esquentar

Os registros mais antigos de calçados vĂȘm de qual perĂ­odo da histĂłria?

đŸ©Ž Saber disso te rende boas conversas e te deixa mais interessante, rs.

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Como os calçados se tornaram cultura

Imagine a cena: hĂĄ 12 mil anos, alguĂ©m prende tiras de couro cru nos pĂ©s para atravessar pedras afiadas ou evitar picadas de animais. Era sobrevivĂȘncia, nada alĂ©m disso.

Mas, com o passar dos séculos, esse gesto deixou de ser apenas uma forma de proteção. Tornou-se símbolo de status e, posteriormente, passou a refletir personalidade, transformando-se em um código de estilo.

Sapato de couro mais antigo do mundo (imagem: The Independent)

TĂȘnis da Nike que massageia os pĂȘs (imagem: GQ)

Senta que lĂĄ vem histĂłria đŸ›‹ïž

Os registros mais antigos de calçados vĂȘm do inĂ­cio do NeolĂ­tico (10.000 a.C. a 4.000 a.C.): sandĂĄlias e mocassins rudimentares, feitos de couro e fibras vegetais, criados para proteger os pĂ©s de terrenos ĂĄsperos e climas adversos.

Ainda antes disso, no final do Paleolítico (12.000 a.C. a 15.000 a.C.), jå hå indícios de que os humanos improvisavam algum tipo de proteção para sobreviver às condiçÔes do ambiente.

Nas paredes de cavernas da Espanha e do sul da França, jĂĄ apareciam pistas de estilo: botas rĂșsticas de pele e atĂ© versĂ”es bem primitivas de sandĂĄlias.

McDOWELL, 1989, p. 98

McDOWELL, 1989, p. 98

No Egito Antigo, sandålias de papiro e fibras de palmeira eram comuns, muitas vezes feitas com a ponta do solado voltada para cima, para evitar a entrada de areia nos pés.

A GrĂ©cia foi alĂ©m da proteção: inventou versĂ”es ajustadas para pĂ© direito e esquerdo e transformou cores e materiais em uma espĂ©cie de cĂłdigo social — um jeito de andar que tambĂ©m dizia quem vocĂȘ era.

Em Roma, bastava olhar para os pĂ©s para saber quem era quem: senadores, soldados, cĂŽnsules
 cada um tinha seu modelo. JĂĄ os escravizados nĂŁo tinham escolha; andar descalço fazia parte da condição.

O sapato como espetĂĄculo

Na Idade MĂ©dia, o sapato deixou de ser um simples acessĂłrio de sobrevivĂȘncia. Nobres desfilavam com botas de cano alto e modelos ornamentados, exibindo cada detalhe como quem ostenta uma joia.

O auge dessa extravagĂąncia ocorreu com as famosas poulaines: sapatos de bico tĂŁo longos que precisavam ser amarrados na perna para nĂŁo atrapalhar a caminhada. Quanto maior fosse a ponta, maior era o prestĂ­gio social.

Fato curioso: SĂ©culos depois, arqueĂłlogos encontraram esqueletos da Ă©poca com deformaçÔes nos pĂ©s — os famosos joanetes — ligadas ao uso desses sapatos. O exagero estĂ©tico literalmente deixou marcas nos ossos.

O excesso, como sempre, gerou reação. Reis decretaram limites, e Henrique VIII colocou um ponto final nos bicos exagerados, impondo um novo padrĂŁo: o modelo “pato”, com ponta larga e quadrada. Uma intervenção direta do poder real no dress code dos pĂ©s.

Chapim veneziano em madeira e couro. ItĂĄlia, c. 1600.

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Em Veneza, as mulheres exibiam status com os chapins, plataformas que podiam chegar a 65 cm de altura (!). Andar sem ajuda era quase impossĂ­vel, mas esse era justamente o ponto: quanto mais alta a plataforma, mais nobreza e riqueza eram simbolizadas. Caminhar com dificuldade era, paradoxalmente, um gesto de poder.

Na França, a corte levou a teatralidade ainda mais longe. LuĂ­s XIV — o Rei Sol — eternizou o salto alto masculino como sĂ­mbolo de poder. Seus saltos vermelhos nĂŁo sĂł lhe davam imponĂȘncia fĂ­sica como tambĂ©m diferenciavam a aristocracia do restante da população.

O sapato, aqui, jĂĄ nĂŁo era apenas acessĂłrio: transformava-se em linguagem polĂ­tica, marca de vaidade e expressĂŁo de individualidade.

Retrato por Hyacinthe Rigaud, 1700–1701

A virada industrial 🏭

Com a Revolução Industrial, o sapato deixou de ser artesanal e exclusivo para entrar na lógica da produção em massa.

Måquinas de costura, padronização de numeração e couro tratado em escala mudaram tudo: pela primeira vez, multidÔes podiam comprar calçados prontos, em vez de depender de um sapateiro sob medida.

  • Esse novo cenĂĄrio trouxe algo inĂ©dito: especialização. JĂĄ nĂŁo existia apenas “um par de sapatos”.

  • Havia calçados para festa, para o dia de trabalho, para o exĂ©rcito e para o esporte. O pĂ© passou a refletir nĂŁo sĂł quem a pessoa era, mas tambĂ©m o que ela estava fazendo.

Foi assim que o calçado se espalhou por todos os palcos da vida moderna: marchando em batalhas, operando em fåbricas, circulando nas ruas das cidades em expansão e, logo depois, correndo nas primeiras quadras de esporte.

O sapato, enfim, deixava de ser um acessório de distinção para se tornar também ferramenta de performance.

Chegando no século XX


A borracha vulcanizada e os novos materiais revolucionaram a forma de produzir calçados esportivos. Com o processo quĂ­mico de vulcanização, a borracha deixou de ser frĂĄgil e ganhou elasticidade e resistĂȘncia, abrindo caminho para os tĂȘnis modernos.

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EntĂŁo, nĂŁo sĂł modernos, mas tambĂ©m sustentĂĄveis. No Brasil, a Yuool foi uma das primeiras marcas a transformar garrafa PET em calçado — um movimento que nĂŁo sĂł ressignificou o uso de materiais como tambĂ©m pressionou toda a indĂșstria a rever sua cadeia. O tĂȘnis deixou de ser sĂł acessĂłrio ou ferramenta: virou tambĂ©m responsabilidade.

Unindo status, performance e sustentabilidade, a marca criou um tĂȘnis confortĂĄvel, leve e respirĂĄvel — feito pra acompanhar o ritmo de quem vive muito mais do que anda.

Se conforto, estilo e versatilidade sĂŁo coisas que vocĂȘ preza, conheça os tĂȘnis da Yuool aqui. Use o cupom THENEWS pra garantir R$100 OFF.

COLLAB COM YUOOL

Os primeiros modelos feitos para o basquete inauguraram a era do tĂȘnis como produto de massa e, pouco depois, como Ă­cone cultural.

InovaçÔes de Chuck Taylor All Star (Imagem: Nike)

A partir daĂ­, os atletas passaram a ditar moda. O que surgia nas quadras e nos pĂłdios logo migrava para as ruas. O tĂȘnis foi adotado pelo rock, pelo hip hop e pelo skate, ganhando novos significados. Abaixo alguns nĂșmeros da dĂ©cada de 1990.

  • As vendas no atacado de tĂȘnis de basquete — de alta tecnologia e de lona — totalizaram cerca de US$ 1,7 bilhĂŁo em 1990.

  • A linha Air Jordan faturou US$ 126 milhĂ”es em vendas no primeiro ano apĂłs seu lançamento em 1985, superando em muito a projeção inicial da Nike de US$ 3 milhĂ”es em trĂȘs anos.

  • A Adidas quadruplicou sua receita, chegando a 5,8 bilhĂ”es de euros entre 1993 e 2000 — Ă©poca em que bandas como Beastie Boys e Korn popularizavam a linha Campus.

Do gesto de sobrevivĂȘncia Ă s linguagens de estilo, os calçados sempre refletiram transformaçÔes sociais e culturais. Mais do que acessĂłrio, eles continuam sendo uma forma de expressĂŁo e posicionamento no tempo e no espaço.

No próximo episódio 🍿

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Falaremos sobre os bastidores que quase ninguĂ©m vĂȘ. Da cadeia de suprimentos Ă s polĂȘmicas com trabalho infantil, greenwashing e corrupção. O que existe por trĂĄs do tĂȘnis que chega atĂ© a sua caixa de sapato?

Antes de vocĂȘ ir embora

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