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Episódio 3: Tarifas do Trump

No início do mês, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou um aumento das tarifas do Brasil de 10% para 50%, e essa decisão pode impactar mais gente do que parece…

Vamos separar o que é ruído do que é relevante — e entender se (e como) isso pode afetar o dia a dia do seu negócio. Seja para se proteger ou até para sair por cima dessa.

Esse é o terceiro episódio da série Entre Nós.

Ao todo, o comércio total de bens dos EUA com o Brasil foi estimado em US$ 92 bilhões em 2024, sendo separado em:

  • 🇺🇸🇧🇷: US$ 49,7 bilhões.

  • 🇧🇷🇺🇸: US$ 42,3 bilhões.

Isso significa que os EUA tiveram um superávit comercial de bens — ou seja, um saldo positivo — em relação ao Brasil de US$ 7,4 bilhões em 2024.

Na prática, esse aumento das tarifas vai mexer nas peças do tabuleiro desse comércio entre os dois países.

“Ok. Mas quem exatamente vai sentir esse baque?”

Como você deve imaginar, as principais e primeiras impactadas serão as empresas que exportam seus produtos para lá, uma vez que teriam que aumentar em 50% seus preços se quiserem manter a margem.

No fim do dia, fica bem difícil competir com concorrentes locais — ou mesmo com produtores de países menos taxados. Veja abaixo os produtos que mais exportamos para lá.

Também há outros produtos que, mesmo não estando nesse top-10, têm forte relação com o país norte-americano. É o exemplo do suco de laranja, em que cerca de 40% das exportações foram para os EUA na última safra. 🧃🍊

Enquanto isso, há empresas brasileiras que têm boa parte das suas receitas vindas de exportações aos EUA, inclusive grandes companhias listadas em bolsa. É o exemplo da Embraer. Aprofunde se quiser.

Ao todo, 9.554 empresas exportaram para os Estados Unidos em 2024, sendo a maior parte delas (5,9k) empresas médias e grandes. Mas o impacto vai muito além…

“Quem só vende no Brasil vai sentir isso também?” 🇧🇷

Ray Dalio, um renomado investidor americano, argumenta em um trecho do seu famoso livro Principles: “Considere os efeitos de segunda e terceira ordem, e não apenas o de primeira”. (Aliás, fica a dica a leitura)

A verdade é que medidas dessa magnitude têm um impacto não só no ponto de origem (exportadoras), mas em toda a cadeia. No fim, esse impacto chega em quem nem sonha em exportar seus produtos.

💰️ Pense que serão bilhões de dólares em mercadorias por ano que terão que ser “realocadas”. Seja achando outro país como destino… Seja ficando no mercado interno. É aqui que entra o efeito de segunda ordem.

1) Exportadores barrados lá fora buscam vender mais aqui dentro

Se as empresas decidirem vender internamente em vez de exportar, a concorrência no mercado interno pode aumentar — ainda mais considerando que a maioria das exportadoras são grandes ou médias companhias.

  • Quando o exportador perde espaço lá fora, ele precisa escoar a produção. E o jeito mais rápido é alocar esse produto no mercado interno.

Isso aumenta a oferta local e força uma maior disputa por preço. Até porque uma boa fatia desses exportadores são players maiores, com muita estrutura, tentando compensar essa perda de margem.

☕️ Exemplo: Uma grande empresa que vende pó de café lá fora pode começar a tentar escoar todo o volume da safra aqui dentro. Para acelerar e não “morrer com a safra na mão”, ela reduz ou pelo menos evita subir o preço nas prateleiras.

Com isso, outras empresas de pó de café que sequer exportam, passam a ver um grande concorrente vendendo seu produto mais barato — e podem precisar também reduzir preço para não perder mercado.

2) O custo de alguns insumos pode subir

Pense que muitas das empresas que exportam são de insumos e matéria-prima, e elas também tendem a fazer esse movimento de escoar esse volume para o mercado interno.

No entanto, ao tentar manter a margem que têm vendendo lá fora (em dólar), elas podem aplicar aumentos de preço internamente — principalmente empresas que não tem concorrentes tão fortes quanto elas.

Isso pode se aplicar em companhias de aço, papel, fertilizantes, plásticos ou até derivados do agronegócio.

📦️ Exemplo: Uma grande empresa de papel, que detém uma participação expressiva do mercado brasileiro, deixa de vender nos EUA e passa a tentar escoar sua produção no Brasil.

Como ela não tem grandes concorrentes do seu tamanho, para evitar perder sua margem, ela aumenta o preço aqui para igualar o lucro que tinha vendendo lá fora — em uma moeda mais de 5x mais forte.

3) O impacto no câmbio

Quando o Brasil exporta menos, entra menos dinheiro de fora no país. Se o fluxo de dólar diminui e o risco aumenta, o real tende a se desvalorizar.

Mais uma vez, mesmo que você não seja exportador, esse impacto no câmbio chega em todo o mercado, hora ou outra.

Basta você pensar que você e seus fornecedores muito provavelmente têm algum custo atrelado ao dólar. Nem que seja o preço de commodities, como alimentos ou mesmo combustíveis (petróleo), que são dados internacionalmente, em dólar.

💵 Exemplo recente: Em junho de 2024, após justamente uma rodada de tensão comercial com os EUA, o dólar subiu de R$ 4,90 para R$ 5,21 em poucos dias — uma variação de mais de 6%.

Dito isso…

As novas tarifas devem mexer consideravelmente no mercado, fazendo o cenário macro mudar nos próximos meses. Ainda assim, seu planejamento não precisa viver no susto.

Fique de olho no que impacta no seu setor. Separe sua reserva, acompanhe de perto os custos e a demanda pelos seus produtos. Esteja um passo à frente.

Como diria Abílio Diniz, empresário e ícone do setor de supermercados e varejo…

Crise é uma chance de você mostrar o seu valor quando quase tudo à sua volta está perdendo valor.

Abílio Diniz (1936-2024)

Falando em varejo…

Saiu o Índice do Varejo Stone de junho, um relatório que reúne os destaques do setor no mês e te ajuda a ter uma visão do que está acontecendo. Aqui estão alguns dos highlights:

Para ter o acesso ao Índice de maneira completa, clique aqui.

🪢 Voltamos em breve no próximo episódio da nossa série para desenrolar mais um nó. Até lá!